O que é terceirização?

O mundo do trabalho está em constante transformação, moldado por avanços tecnológicos, dinâmicas socioeconômicas e, no caso do Brasil, também pela crescente relevância da terceirização.

A terceirização é a prática empresarial em que uma organização contrata outra para executar atividades específicas que não são parte do seu core business (negócio principal). Ela permite que as empresas foquem em suas competências principais, enquanto tarefas complementares são realizadas por prestadores de serviços especializados, redefinindo, assim, as relações entre empregadores, trabalhadores e o próprio conceito de trabalho. Este recurso pode abranger diversas funções, desde serviços de limpeza e segurança até operações mais complexas, como TI e atendimento ao cliente.

No Brasil, a terceirização ganhou um impulso significativo com a aprovação da Nova Lei de Terceirização, em 2017, que permite que as empresas terceirizem não apenas suas atividades-meio, mas também suas atividades-fim. Um estudo recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que este recurso já é utilizado por 80% das organizações em algum setor ou atividade, destinando uma média de 18,6% de seus orçamentos para este fim. Sua ampla adoção também pode ser constatada a partir dos dados do IBGE, que indicam que cerca de 12,7 milhões de profissionais, em 2021, eram terceirizados, número equivalente a 26% da força de trabalho nacional.

Ficou interessado(a) por este tema? Siga a leitura para entender mais sobre a terceirização, como ela se relaciona com os critérios e práticas ESG, e ainda os riscos e desafios associados a ela!

A relação entre terceirização e ESG

A sigla ESG (Environmental, Social, and Governance) refere-se a um conjunto de critérios e práticas que avaliam a sustentabilidade e o impacto de uma empresa no meio ambiente, na sociedade e comunidades das quais faz parte, e em sua própria governança corporativa. Nos últimos anos, principalmente no pós-pandemia, a agenda ESG tem ganhado cada vez mais destaque, impulsionada pela crescente demanda por responsabilidade social e ambiental. No contexto da terceirização, a relação com ESG é complexa e multifacetada.

Embora a terceirização possa trazer benefícios operacionais, principalmente no que diz respeito ao aumento da eficiência e redução de custos, ela também apresenta uma série de desafios e riscos que precisam ser geridos com cuidado, especialmente no contexto da agenda ESG

Quais são os principais desafios e riscos?

Para 71% das empresas brasileiras ouvidas pela consultoria global PwC, o maior desafio relacionado à gestão de riscos ligados à ESG é a falta de controle direto – ou seja, a dificuldade em monitorar e relatar com precisão – sobre os padrões e as práticas dos prestadores de serviços. No mundo, esse índice é de 42%.

Outra pesquisa, esta conduzida pela Deloitte, revela que 90% das empresas relataram algum tipo de prejuízo relacionado a incidentes com terceirizados. Esses desafios estão relacionados à impactos negativos na reputação (26%), à questões financeiras (23%), a problemas regulatórios (23%), à gestão inadequada de informações confidenciais (21%) e a complicações nos vínculos comerciais (10%).

Práticas ESG em meio à crescente terceirização

A implementação de práticas ESG eficazes na gestão de terceirizados requer um esforço coordenado e estratégico. As empresas precisam adotar políticas robustas de due diligence (diligência/investigação prévia) que não apenas avaliem a conformidade dos prestadores de serviços com aspectos legais e regulatórios, mas também com os critérios ESG. Confira abaixo como isso pode ser feito!

Políticas de due diligence para ESG

  • Garanta que os prestadores de serviços cumpram todas as leis e regulamentos aplicáveis.
  • Verifique se os terceirizados têm políticas ambientais sólidas e se estão tomando medidas concretas para minimizar seu impacto ambiental, como a pegada de carbono.
  • Avalie se as empresas terceirizadas realmente promovem a inclusão e a diversidade em seus locais de trabalho.
  • Assegure-se de que existam políticas claras e efetivas para prevenir e lidar com casos de assédio moral e sexual.
  • Confirme a existência de mecanismos eficazes para que funcionários e demais stakeholders denunciem práticas antiéticas ou ilegais.
  • Tecnologias e ferramentas de monitoramento ativo
  • Utilize ferramentas avançadas, como Inteligências Artificiais (IAs), para monitorar e relatar em tempo real as práticas dos terceiros, melhorando a transparência e a capacidade de resposta.
  • Implemente sistemas de auditorias regulares e relatórios detalhados sobre o desempenho dos prestadores de serviços em relação aos critérios ESG.
  • Integre plataformas que ajudem na gestão dos riscos associados à cadeia de fornecimento e produção, permitindo uma visão holística e proativa dos possíveis problemas.

Vale destacar ainda que a digitalização acelerada pela pandemia e o trabalho remoto aumentaram a percepção de ameaças e cortes orçamentários para combater fraudes. Esta realidade destaca a importância de um controle ainda mais rigoroso sobre os parceiros terceirizados, pois falhas podem resultar em consequências legais e financeiras significativas para as empresas contratantes. 

A Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) reforça que, se um terceirizado não cumprir com suas obrigações trabalhistas, a empresa contratante pode ser responsabilizada, aumentando o risco jurídico associado à terceirização.

A terceirização seguirá como uma prática empresarial recorrente?

A ascensão da agenda ESG traz um novo paradigma para a terceirização, em que as empresas precisam equilibrar eficiência operacional com responsabilidade social e ambiental. Isso envolve uma abordagem proativa para avaliar e monitorar os riscos associados aos prestadores de serviços, garantindo que todos os parceiros operem de acordo com os mais altos padrões éticos.

Investir na prática ESG é uma medida crucial para qualquer empresa que deseja prosperar no ambiente corporativo contemporâneo. As empresas que lideram neste campo são aquelas que não apenas adotam as melhores práticas internamente, mas também exigem o mesmo nível de compromisso de seus terceirizados. Essa abordagem não só protege a reputação das empresas, mas também contribui para um impacto positivo mais amplo na sociedade e no meio ambiente.

Crédito da imagem: rawpixel.com – Freepik

Compartilhe este artigo