Mulher no mercado de trabalho: entenda os desafios e as oportunidades 

Os desafios enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho já são bastante conhecidos: disparidade salarial, menor proteção social e dificuldade de crescimento profissional são apenas alguns deles. Apesar das melhorias em diversos indicadores nos últimos anos, os avanços seguem lentos, enquanto a desigualdade de gênero persiste.

Um sinal claro é apresentado por dados da ONU: apenas 63% das mulheres entre 25 a 54 anos estão empregadas; a porcentagem dos homens chega a 91%. Nos países de baixa renda, 91% das mulheres trabalham na informalidade, sem direitos trabalhistas garantidos. Além disso, cerca de 2 bilhões de jovens e mulheres realizam mais trabalho não remunerado que os homens, especialmente em atividades de cuidado, que podem exigir até cinco vezes mais horas em algumas regiões.

Siga a leitura e entenda melhor sobre a inserção da mulher no mercado de trabalho, sua evolução, principais conquistas e barreiras que ainda persistem.

A evolução das mulheres no mercado de trabalho ao longo da História

Em meados do século XVIII, a Revolução Industrial representou uma grande mudança para a mulher no mercado de trabalho. Caracterizado por uma transformação profunda nos modos de produção, este período fez com que a massa feminina trocasse o trabalho doméstico ou artesanal pelo das fábricas, embora em condições precárias e por salários inferiores aos dos homens.

Ao longo dos séculos XIX e XX, os movimentos sociais e feministas ganharam força, exigindo melhores condições de trabalho, igualdade salarial e direitos políticos. A conquista do direito ao voto, por exemplo, foi um marco na autonomia feminina, permitindo mais influência nas políticas públicas.

A participação da mulher no mercado de trabalho continuou evoluindo, principalmente durante as duas Guerras Mundiais, em que a mão de obra feminina foi essencial para manter a produção industrial, já que os homens haviam sido recrutados.

No Brasil, em especial, a participação feminina no mercado de trabalho teve maiores avanços a partir da segunda metade do século XX. Uma grande conquista foi a aprovação da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), em 1943, que estabeleceu direitos como licença-maternidade e proteção contra demissões discriminatórias.

Nas décadas de 1970 e 1980, com a ascensão do movimento feminista brasileiro e a ampliação do acesso à educação superior, as mulheres passaram a ocupar também espaços dominados por homens em áreas como ciência, tecnologia e política. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de ocupação feminina atingiu 48,1% no segundo trimestre de 2024. Todavia, os desafios ainda persistem.

Mulheres no mercado de trabalho: quais são os principais desafios?

As mulheres enfrentam diversos desafios que impactam seu crescimento profissional, como:

  • Diferença salarial e desigualdade de oportunidades

Em muitos setores, as trabalhadoras recebem remunerações inferiores às dos homens, mesmo ao desempenhar funções equivalentes ou ter a mesma qualificação.

  • Baixa representatividade em posições de liderança

A falta de oportunidade para mulheres em cargos de liderança é intensificada por ‘’barreiras invisíveis”, como ambiente organizacional excludente e estereótipos de gênero.

  • Assédio e preconceito

O ambiente de trabalho ainda pode ser hostil para as trabalhadoras, que enfrentam assédio moral, sexual e preconceito de gênero. As situações vão desde desvalorização de opiniões até casos mais graves.

  • Desafios da dupla jornada

Muitas mulheres precisam se dividir entre atividades laborais e responsabilidades domésticas. Mesmo em casas em que as tarefas são divididas de forma equilibrada, a maior parte da carga mental e emocional ainda recai sobre as mulheres.

  • Segregação ocupacional

Ainda existem setores em que a presença feminina é limitada. Um exemplo no Brasil são as áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), em que a participação das mulheres segue baixa, tanto no ambiente acadêmico quanto no mercado de trabalho.

A relação com a informalidade

Diante dos inúmeros desafios que a mulher enfrenta no mercado de trabalho, a informalidade tem se tornado uma realidade crescente. Desta forma, a relação entre as mulheres e a economia informal está diretamente ligada à necessidade de flexibilidade e sobrevivência.

Muitas trabalhadoras recorrem ao trabalho informal, sem carteira assinada – como manicures, diaristas, vendedoras de cosméticos, camelôs, trancistas e boleiras –, para conseguirem conciliar afazeres domésticos e as responsabilidades profissionais. Este também é um caminho para aquelas que necessitam de requalificação, mas enfrentam barreiras para ingressar novamente no mercado de trabalho formal.

Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a informalidade é maior entre as trabalhadoras. No terceiro trimestre de 2022, 43,3% delas estavam em postos de trabalho informais.

Além disso, a maternidade aparece como questão determinante para o trabalho informal. É devido a falta de políticas eficazes de apoio às mães que muitas trabalhadoras recorrem a atividades autônomas, buscando maior liberdade.

Os impactos desse alto nível de informalidade da mulher no mercado de trabalho são, muitas vezes, invisíveis, e surgem sobretudo pela não garantia de direitos trabalhistas, como:

  • Aposentadoria pela Previdência Social e auxílio-doença;
  • Férias remuneradas e licença-maternidade;
  • Jornadas de trabalho regulamentadas.

O futuro das mulheres no mercado de trabalho

A igualdade de gênero segue como pauta para o desenvolvimento do país, e para que essa mudança ocorra de maneira efetiva, é essencial fortalecer iniciativas como:

  • Desenvolvimento de políticas públicas para promover a igualdade de gênero;
  • Fortalecimento dos debates sobre equidade e inclusão;
  • Elevação dos níveis de escolaridade entre mulheres, com o investimento no acesso à educação e incentivo à educação técnica e superior;
  • Implementação de políticas e estratégias de inclusão no mercado de trabalho;
  • Valorização de diversidade nas empresas;
  • Avanços na ampliação da licença-maternidade.

Uma conquista importante nesse quesito foi a sanção da Lei 14.611, que exige a transparência salarial por parte das empresas. Desta forma, a fiscalização e combate à discriminação de gênero nos rendimentos pode ser feita de forma mais eficaz.

Apesar dos inúmeros desafios, que persistem há séculos, as conquistas recentes mostram que as trabalhadoras seguem consolidando seu espaço.

A inclusão da mulher no mercado de trabalho é essencial tanto social quanto economicamente, impulsionando a igualdade de gênero e contribuindo para a redução da pobreza familiar.

Os avanços conquistados demonstram a importância de continuar promovendo mudanças estruturais na sociedade, seja por meio de políticas públicas ou políticas inclusivas dentro das próprias empresas, para criar ambientes de trabalho mais justos. Desta forma, o compromisso com a inclusão não pode ser apenas uma tendência, mas uma responsabilidade de todos para transformar o mercado de trabalho.

Crédito da imagem: Fernando Frazão – Agência Brasil

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