Desigualdade social no Brasil: como afeta o mercado de trabalho?

A desigualdade social é a diferença entre as classes sociais, em que determinados indivíduos se encontram em condições estruturalmente mais vantajosas do que outros. O Brasil está entre os países mais desiguais do mundo, como mostra o Relatório Global de Riqueza 2025, do banco suíço UBS, que analisou a dinâmica de riqueza em 56 nações.

Essa desigualdade é composta por diversos fatores, a começar pela concentração econômica: os 10% mais ricos detêm quase 59% da renda nacional, e o sistema tributário ainda contribui para ampliar esse quadro. A ausência de tributação sobre dividendos — parcela do lucro distribuída a acionistas — é um exemplo emblemático. Somam-se a isso os juros elevados e a forte incidência de impostos sobre consumo, que pesam de forma desproporcional sobre as camadas de menor renda.

Outro aspecto determinante são as limitações históricas que moldam o acesso a direitos essenciais e restringem a circulação de pessoas entre diferentes posições sociais. A oferta insuficiente de serviços públicos, a fragilidade de infraestrutura em diversas regiões e a ausência de redes de suporte dificultam trajetórias de estabilidade econômica. Nesse contexto, o emprego assume frequentemente um caráter de urgência: grande parte da população precisa aceitar qualquer ocupação disponível, independentemente de condições, o que reduz a possibilidade de ascensão ao longo do tempo.

Mesmo com avanços recentes, como a queda recorde do desemprego em 2025, esses resultados não se distribuem de maneira homogênea. A diferença de renda entre grupos de maior e menor poder aquisitivo continua influenciando quem consegue alcançar a mobilidade social.

É com base nessa realidade que o artigo examina como a desigualdade social influencia o dia a dia do mercado de trabalho no Brasil. Continue a leitura!

O cenário atual da desigualdade social e seus efeitos

O Brasil vive uma situação paradoxal: apesar de o desemprego ter atingido seu menor nível histórico (5,4%) e de a renda média ter crescido cerca de 70% nas últimas três décadas, levando também à redução da desigualdade social e da pobreza extrema, esses avanços não se traduzem automaticamente em igualdade plena.

Os progressos refletem períodos de expansão econômica e ampliação de vagas no setor produtivo, acompanhados do fortalecimento de políticas sociais.

Ainda assim, esses movimentos não são suficientes para superar obstáculos persistentes. Pesquisas recentes indicam queda na mobilidade social: mesmo aumentando sua escolaridade, muitos trabalhadores de baixa renda permanecem concentrados em ocupações pouco valorizadas, fenômeno conhecido como “educação não revertida em produtividade”.

  • A distância histórica entre classes, regiões e grupos sociais se traduz em desafios como:
  • Limitações no desenvolvimento profissional efetivo;
  • Maior exposição a ocupações informais;
  • Dificuldade de inserção em posições que ofereçam estabilidade e progressão;
  • Vulnerabilidade ampliada a jornadas irregulares e funções abaixo da qualificação.

Desigualdades dentro dos ambientes de trabalho

A disparidade social não se limita à renda ou à trajetória educacional; ela também se manifesta no cotidiano das empresas, influenciando quem entra, quem sai, quem permanece e quem avança em determinadas áreas. Embora exista uma legislação que assegure a igualdade de tratamento, muitos ambientes de trabalho ainda operam com práticas que favorecem determinados perfis, o que reforça desigualdades históricas.
Entre os principais desafios encontrados estão:

  • Representatividade limitada em cargos estratégicos

Posições de liderança continuam sendo ocupadas majoritariamente por homens brancos, sem deficiência, o que restringe a diversidade de perspectivas nos processos de decisão. A segunda edição da pesquisa “Diversidade de gênero e raça de administradores e empregados das empresas de capital aberto”, produzida pelo IBGC, mostrou que 85,8% dos cargos de diretoria são liderados por profissionais brancos.

  • Diferenças persistentes de remuneração e progressão

Grupos sociais distintos, por gênero, raça, idade ou condição física, enfrentam trajetórias profissionais mais lentas e salários desiguais.

  • Discriminação sutil e vieses comportamentais

Comportamentos cotidianos, muitas vezes não declarados, dificultam a entrada, o reconhecimento e a permanência de mulheres, pessoas negras, LGBTQIAPN+, trabalhadores mais velhos e pessoas com deficiência.

Desigualdade social, trabalho informal e subemprego: uma relação direta

No Brasil, cerca de 40 milhões de pessoas trabalham de forma informal, segundo dados do IBGE, sendo que jovens negros são os mais afetados por esse modelo. Trabalhadores informais não têm direitos básicos, como aposentadoria, seguro-desemprego ou assistência em caso de doença ou acidente.

O subemprego representa outra forma de inserção precária no mercado. Nesse caso, a pessoa ocupa uma função que não aproveita suas habilidades e sua remuneração é insuficiente para suprir necessidades básicas. Esse tipo de ocupação inclui vagas informais, temporárias e de meio período, refletindo condições de trabalho que não garantem dignidade ou estabilidade.

Esse cenário é particularmente comum em países com altos índices de desigualdade e tende a se intensificar em momentos de crise econômica. Assim, a desigualdade social não apenas limita o ingresso a empregos formais, mas também mantém grande parte da população em posições laborais instáveis e mal remuneradas.

Desafios para reduzir a desigualdade no mercado de trabalho

As organizações ainda enfrentam obstáculos para promover maior paridade, que podem ser superados por meio de ações efetivas de inclusão, como:

  • Políticas de recrutamento e promoção baseadas em talento e competências, não estereótipos.
  • Programas de treinamento, sensibilização e workshops para líderes e equipes.
  • Remuneração e benefícios compatíveis, garantindo valorização real dos profissionais.
  • Compromisso contínuo com diversidade como filosofia organizacional, preparando as próximas gerações.

Essas medidas não apenas promovem mais equidade nos ambientes de trabalho mas também reforçam avanços sociais mais amplos, estimulando inclusão e desenvolvimento sustentável, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Enfrentar a desigualdade exige uma combinação de esforços institucionais, políticas públicas articuladas e a participação ativa dos diferentes setores da economia. O avanço tecnológico, a reorganização produtiva e as mudanças demográficas criam oportunidades, mas também novos desafios.
A capacidade de integrar políticas sociais, práticas empresariais inclusivas e mecanismos de formação continuada será determinante para construirmos ambientes laborais mais equilibrados nas próximas décadas. Assim, o debate sobre desigualdade social deixa de ser apenas uma discussão econômica e passa a envolver planejamento, inovação e compromisso coletivo.

Crédito da imagem:  Adobe Stock

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