Jovens e mercado de trabalho brasileiro: o que mudou e o que eles buscam?
O mercado de trabalho brasileiro vive um momento expressivo. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego atingiu 5,4% em outubro de 2025, registrando uma queda histórica. Alguns especialistas já citam o pleno emprego — situação em que todos que querem e podem trabalhar encontram ocupação — como uma possibilidade real para o próximo ano.
Ainda assim, o número de trabalhadores na informalidade segue elevado, especialmente entre quem está entrando no mercado. Esse movimento revela muito sobre a relação entre jovens e mercado de trabalho e evidencia fragilidades estruturais, já que a baixa inserção formal desse grupo reduz a força produtiva, compromete a inovação e afeta a competitividade do país. Com menos profissionais dessa etapa empregados formalmente, há redução na arrecadação de impostos e contribuições previdenciárias, o que impacta o financiamento de políticas públicas e da seguridade social.
O envelhecimento populacional adiciona outra camada de preocupação. Perder o potencial produtivo da juventude pode intensificar os desafios da transição demográfica. Ao mesmo tempo, mudanças comportamentais marcam as novas gerações: debates sobre saúde mental, novas expectativas e as facilidades trazidas pela tecnologia têm redefinido prioridades e modos de inserção profissional.
Compreender esses elementos é essencial para analisar a relação entre jovens e mercado de trabalho no Brasil, identificar tendências e apontar caminhos para um futuro mais inclusivo.
Jovens e mercado de trabalho: qual é o perfil atual?
O perfil dos jovens no mercado de trabalho brasileiro mostra um cenário de retomada com uma busca ativa por melhores condições. O número de pessoas de 14 a 24 anos ocupadas cresceu, e a taxa de desemprego nessa faixa etária caiu de forma significativa. O grupo dos “nem-nem”, formado por quem nem estuda, nem trabalha, também recuou para o menor nível em mais de uma década, indicando maior engajamento em estudos e empregos.
Apesar do avanço, boa parte dessa população ainda recebe salários abaixo da média nacional, reforçando a importância de políticas que conectem trabalho, formação técnica e capacitação tecnológica.
As escolhas profissionais dessa geração revelam comportamentos distintos. Um terço dos jovens pediu demissão em 2024 buscando melhores salários, potenciais de crescimento e qualidade de vida. Entre os fatores decisivos estão plano de carreira, benefícios, respeito no ambiente laboral e tempo de deslocamento. Modelos híbridos ganham preferência, enquanto jornadas rígidas e ambientes estressantes motivam a busca por novas oportunidades.
Em paralelo, cresce o interesse pelo desenvolvimento profissional: 79% querem continuar estudando e 88% buscam cursos e certificações, especialmente ligados às novas tecnologias e à inteligência artificial. Programas de estágio e aprendizagem também avançam, ampliando o acesso ao primeiro emprego formal, etapa fundamental para a melhoria da relação entre jovens e mercado de trabalho, segundo pesquisa de 2025 do Sesi e Senai.
O resultado é uma geração que chega ao mercado com novas expectativas, maior consciência sobre seus direitos e menor disposição para permanecer em ambientes sem valorização, perspectiva de crescimento ou condições dignas.
Quais os desafios enfrentados pelos jovens no mercado de trabalho?
Embora haja sinais de melhora, os desafios ainda são significativos. O desemprego entre a faixa etária de 18 a 29 anos é mais que o dobro da taxa observada entre pessoas de 30 a 59 anos, segundo levantamento do FGV Ibre.
Entre os principais obstáculos estão:
- Falta de experiência: muitas empresas exigem vivências prévias, criando um paradoxo em que os mais novos não conseguem chances justamente por ainda não terem começado.
- Baixa qualificação: grande parte das ocupações que mais contratam os menos experientes exige pouca formação, o que atrai quem abandonou os estudos ou não tem acesso a cursos técnicos e superiores. Isso limita a empregabilidade e a evolução profissional.
- Precarização do trabalho: setores como comércio e serviços, são marcados por rotatividade, jornadas instáveis e salários baixos, dificultando a construção de uma trajetória sólida.
- Concorrência com profissionais mais experientes: em um mercado competitivo, trabalhadores mais velhos e com experiência prática acabam se ajustando melhor às vagas disponíveis.
Esses fatores empurram a juventude para a informalidade e para cargos de nível básico, baseados em tarefas repetitivas e com alto potencial de automação, evidenciando o descompasso entre jovens e mercado de trabalho, entre suas expectativas e oportunidades reais.
A subocupação também preocupa: cerca de 5,4% (1,4 milhão) dos jovens entre 18 e 29 anos trabalhavam menos de 40 horas semanais no quarto trimestre de 2024, embora desejassem e estivessem disponíveis para trabalhar mais, percentual maior que o da média nacional.
Quais são as tendências e oportunidades para jovens?
Competências como trabalho em equipe, comunicação, resiliência e proatividade seguem entre as mais requisitadas pelas empresas, mesmo para vagas de início de carreira. A ausência desses atributos contribui para que profissionais com pouca experiência encontrem mais barreiras para conquistar e manter uma posição formal.
A qualificação se torna estratégica: em um mercado mais competitivo, cresce a demanda por formação técnica, cursos profissionalizantes e programas de capacitação. Nos últimos anos, ampliaram-se as iniciativas gratuitas, mas ainda há necessidade de maior alinhamento entre os conteúdos oferecidos e as necessidades reais das empresas, especialmente no desenvolvimento de habilidades socioemocionais e comportamentais, um ponto-chave para o futuro dos jovens e mercado de trabalho
Construir essa ponte entre formação e necessidade das organizações é um dos caminhos para ampliar as oportunidades de entrada e permanência de quem está começando a carreira, fortalecendo tanto o desenvolvimento profissional quanto o crescimento econômico do país.
Em resumo, a perspectiva que envolve os jovens e o mercado de trabalho mostra que há espaço para crescimento, tanto para quem busca a primeira oportunidade quanto para as empresas que precisam de novos talentos. O desafio está em aproximar expectativas e exigências, criando caminhos mais acessíveis para a entrada no emprego formal.
Quando essa conexão acontece, todos ganham: aumenta a produtividade, reduz-se os índices de informalidade e subocupação, assim o país avança na construção de ambiente mais inclusivo e alinhado às transformações sociais e tecnológicas.
Por isso, investir de forma contínua em educação, formação técnica e desenvolvimento socioemocional é essencial. Bons indicadores não devem gerar acomodação: sem políticas consistentes de capacitação e inclusão, a informalidade tende a crescer, especialmente entre quem está começando a vida profissional. Fortalecer essa base é o que assegura um futuro mais sólido, tanto para a juventude quanto para o país.
Crédito de imagem: Adobe Stock


















































