Como a violência contra a mulher impacta a sociedade?
A violência contra a mulher é uma grave violação dos direitos humanos que atinge profundamente a sociedade em suas diversas esferas. Caracterizada como qualquer ação ou conduta baseada no gênero que cause dano, sofrimento ou morte, tanto no âmbito público quanto no privado, essa forma de agressão se manifesta de múltiplas maneiras.
Entre os tipos mais reconhecidos, destacam-se a violência física, que fere a integridade ou saúde corporal; psicológica, que, embora não-visual, provoca dano emocional e diminuição da autoestima; sexual, que constrange e força a mulher a participar de atos sexuais não desejados; patrimonial, que envolve a retenção, subtração ou destruição de bens e valores; e a moral, que se expressa por meio de calúnia, difamação ou injúria.
Compreender essas nuances é fundamental para identificar, combater e prevenir esse fenômeno. O Brasil possui dados alarmantes: a 5ª edição da pesquisa “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, lançada em março de 2025 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em conjunto com o Instituto DataFolha, mostrou que de 21 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de abuso em 2024 — o que equivale a 2.400 mulheres violentadas por hora.
A Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) registrou 86.025 denúncias, de janeiro a 31 de julho de 2025. Para entender mais sobre os desdobramentos, e como esta forma de conduta abusiva impacta a sociedade, continue a leitura.
O que causa a violência contra a mulher?
As origens dessas ações estão ligadas a fatores sociais, políticos, culturais, econômicos e ambientais, possuindo forte associação com as desigualdades de gênero e o machismo estrutural. A ideia de que o homem é mais forte, em todos os sentidos, e que a mulher deve ser submissa pode criar uma relação disfuncional.
Diversas pesquisas de opinião também apresentam outras causas, como o abuso do consumo de bebidas alcoólicas. Em 2004, o Instituto Patrícia Galvão (2004) constatou que 81% dos entrevistados apontaram esse fator como determinante para a violência doméstica, por exemplo.
Cinco anos depois, em um estudo da AVON, 38% dos participantes ainda achavam que o alcoolismo era a principal causa dos casos de agressão física. Entretanto, por mais que também seja um problema social e de saúde pública, o consumo exagerado de bebida alcoólica não responde por todos os atos cometidos contra as mulheres.
É importante considerar que a normalização destas situações pode perpetuar uma ideia de liberdade, que permite a um homem machucar uma mulher por diversas razões. Em muitas circunstâncias, a violência, nas suas várias formas, pode escalar, culminando em desfechos trágicos, como o feminicídio. A 19ª Edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, por exemplo, mostrou que o país registrou um novo recorde em 2024, com 1.492 mulheres assassinadas.
Como a violência contra a mulher se manifesta na sociedade e no ambiente de trabalho?
O conceito de violência contra a mulher frequentemente remete a ataques físicos e sexuais no ambiente doméstico. Contudo, é fundamental reconhecer que este é um problema multifacetado, presente em todas as esferas da sociedade, com repercussões distintas e alarmantes, inclusive no mercado de trabalho.
- Na sociedade
Dados divulgados pela Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), revelam que, em 47,6% dos casos, os agressores são companheiros, ex-companheiros, maridos ou namorados. A maior parte das vítimas é heterossexual (57,7%). Outro dado aponta que mulheres negras são as mais afetadas, representando 44,3% das vítimas.
Esses números sublinham a prevalência de agressões que vão além do físico, atingindo a saúde mental e a autonomia das vítimas. Locais de trabalho (1.354), casa de familiares (1.236) e estabelecimentos comerciais (1.164) são os cenários mais denunciados.
- No ambiente de trabalho
Houve um aumento de 16,8% no número de denúncias de assédio sexual contra mulheres em ambiente de trabalho em um ano, conforme dados obtidos pelo canal de TV CNN.
Vale ressaltar que existem outras formas de intimidação, como as microagressões, que envolvem o interrompimento contínuo, a infantilização e até perguntas e piadas constrangedoras, que minam a confiança profissional.
Quais são as principais consequências para as vítimas e a sociedade?
A violência contra a mulher gera efeitos devastadores e que ultrapassam a esfera individual, comprometendo a saúde, o convívio social e o desenvolvimento econômico do país.
- Consequências diretas para as vítimas
Danos físicos: agressões podem causar fraturas, hematomas, dores crônicas e complicações na saúde reprodutiva, como gravidez indesejada e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Efeitos psicológicos: o trauma pode levar à depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e, em alguns casos, ao abuso de álcool e drogas como forma de enfrentamento.
- Consequências sociais e econômicas
Isolamento e ciclo abusivo: o medo e a vergonha afastam a mulher de familiares e amigos, favorecendo a repetição de padrões abusivos nas gerações seguintes.
Prejuízos no trabalho e na educação: os efeitos físicos e emocionais reduzem o desempenho, provocam faltas e dificultam a autonomia financeira.
Custo econômico: estima-se que a violência de gênero cause perdas de cerca de R$ 210 bilhões ao PIB brasileiro, refletindo em queda de produtividade e aumento da demanda por serviços públicos.
Como prevenir a violência contra a mulher?
A prevenção da violência contra a mulher é um desafio complexo, que demanda uma abordagem abrangente e contínua, englobando ações coordenadas em diversas frentes: educação, legislação, apoio às vítimas e engajamento social.
A erradicação desse problema perpassa a conscientização e a implementação de políticas públicas eficazes.
No Brasil, a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), reconhecida pela ONU como uma das três mais avançadas do mundo, representa um marco legal fundamental na proteção das mulheres. Esta legislação não se limita a criminalizar os atos de abusos domésticos e familiares, mas também estabelece um arcabouço de medidas protetivas e de assistência às vítimas, prevendo a criação de juizados e varas especializadas para o julgamento e execução das causas.
Além das frentes legislativa e educacional, é vital fortalecer as redes de apoio às vítimas, garantindo o acesso a serviços de saúde, assistência psicológica, abrigos seguros e suporte jurídico. O incentivo à denúncia (através do Ligue 180, por exemplo), também é importante para interromper ciclos de abuso. Por se tratar de um problema estrutural, a mudança comportamental é essencial para que o Brasil consiga garantir a segurança das mulheres e a igualdade de gênero.
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