Remuneração baseada em metas ESG: é possível?

A evolução da remuneração executiva

Nos últimos anos, a sustentabilidade tem se tornado um fator crítico nas estratégias empresariais, influenciando diretamente a remuneração dos administradores, como diretores e presidentes, das maiores instituições globais. 

O aumento da conscientização sobre os impactos ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG) exige que as empresas repensem suas estratégias de remuneração para alinhar os interesses dos stakeholders (públicos de interesse) – sejam eles parceiros, investidores, clientes ou colaboradores – às práticas sustentáveis. 

Segundo um estudo da Morrow Sodali, 80% das principais instituições financeiras da Europa e dos Estados Unidos já incorporam metas e métricas ESG nas estratégias de incentivo e remuneração variável da alta liderança. 80% das instituições que divulgaram o desempenho relacionado à sustentabilidade incluem as métricas nos Planos de Incentivo de Curto Prazo (STIPs, em inglês). Outros 13% inserem as métricas nos Planos de Incentivo de Longo Prazo (SLTIP, em inglês), enquanto 7% deles as distribuem entre os dois planos de incentivo.

Quer entender mais sobre este modelo, como implementá-lo e seus principais benefícios? Siga a leitura! 

O que é necessário para que a remuneração baseada em ESG seja implementada?

Para que a remuneração dos executivos esteja efetivamente vinculada a metas ESG, é essencial, em primeiro lugar, o forte engajamento e compromisso da alta administração. Este é um dos maiores desafios, pois, na prática, esse apoio só se materializa quando existe uma cultura organizacional muito forte ou uma obrigação imposta por sanções ou leis externas. 

Pensando nisso, as empresas devem buscar integrar as métricas ESG aos objetivos e estratégias de seus negócios, educando os executivos sobre o impacto positivo dessas práticas com exemplos reais da própria empresa ou até de competidores. A sensibilização e o comprometimento dos líderes são fundamentais para criar uma cultura que valorize a sustentabilidade desde os níveis hierárquicos mais altos até a linha de frente.

O segundo passo é identificar quais métricas ESG são adequadas para o segmento da empresa, levando em conta as especificidades do negócio e as expectativas dos stakeholders. As metas selecionadas e estabelecidas devem ser claras e mensuráveis. 

Métricas como emissão de carbono, reuso de água tratada e destinação de resíduos podem ser monitoradas facilmente e com pouco investimento. Outros critérios comuns incluem a composição diversificada das equipes e da alta liderança – contando com mulheres, pessoas LGBT+, PcDs, entre outras minorias –, e a promoção de ambientes inclusivos, saúde e segurança, e impacto social realmente positivo.

A inclusão deve ser ativa e não apenas um indicador numérico.

A importância da transparência e da conformidade

A transparência é um pilar fundamental quando se trata de remuneração baseada em metas ESG. Toda e qualquer métrica eleita exige conformidade com as leis nacionais e internacionais aplicáveis. Os contratos de trabalho devem ser claros, dispondo de critérios de desempenho, prazos e consequências vinculadas às contribuições individuais. Neste processo, o apoio e a validação do Departamento Jurídico são cruciais para garantir a conformidade legal.

Além disso, práticas de prevenção à corrupção devem ser incorporadas sem causar impactos negativos no negócio. A importância do gestor como líder de integridade deve ser destacada, mostrando como isso pode impactar positivamente tanto sua carreira quanto a própria empresa. Definir regras objetivas de reporte, realizar treinamentos internos constantes e reconhecer práticas relacionadas são passos essenciais para construir um ambiente ético e transparente.

O desenvolvimento de políticas institucionais claras, que detalhem a vinculação da remuneração aos objetivos ESG, é responsabilidade da área de Compliance. Estas políticas devem ser comunicadas aos colaboradores, acionistas e demais stakeholders. Incluir métricas ESG e o desempenho relacionado em relatórios corporativos ajuda a demonstrar transparência e a engajar todos os envolvidos, destacando o real compromisso da empresa com a sustentabilidade.

Como implementar a remuneração baseada em ESG?

Uma vez estabelecidas as bases sólidas de engajamento, identificação de métricas e reconhecida a importância da transparência, é hora de colocar o programa em prática! A implementação deve operar nas frentes de capacitação e treinamento, comunicação e monitoramento da ação. Confira:

Capacitação e treinamento:

  • Ofereça treinamento para líderes e funcionários sobre a importância das metas ESG e seu impacto na remuneração.
  • Use exemplos e casos de sucesso de outras empresas para ilustrar os benefícios das práticas ESG.

Comunicação:

  • Comunique claramente aos stakeholders sobre a introdução da remuneração vinculada a metas ESG.
  • Inclua métricas ESG, e o desempenho relacionado, em relatórios corporativos para demonstrar transparência.

Monitoramento e avaliação:

  • Implemente sistemas de monitoramento para rastrear o progresso em relação às metas estabelecidas. 
  • Mesmo com um orçamento limitado, uma pessoa dedicada pode realizar o monitoramento periódico, utilizando até mesmo ferramentas simples como planilhas de Excel.
  • Realize avaliações de desempenho regulares e ajuste as metas conforme necessário para refletir as mudanças nas condições de mercado ou regulamentações nacionais ou internacionais.

Reconhecimento e incentivos:

  • Crie programas de reconhecimento e incentivos adicionais para funcionários que demonstrem liderança exemplar na consecução das metas ESG.
  • Inclua cláusulas de clawback em contratos para situações de descumprimento das metas estabelecidas.

Exemplos de sucesso para se inspirar

A Unilever, por exemplo, estabeleceu metas ambiciosas para a redução de resíduos plásticos e aumento da sustentabilidade em sua cadeia de suprimentos. Já a Danone implementou um programa de remuneração focado na redução da pegada de carbono e no estímulo à agricultura sustentável. Por fim, a Microsoft introduziu um plano que recompensa os executivos financeiramente pelo avanço da sustentabilidade, com foco na neutralidade de carbono até 2030, alinhando-se à Agenda 2030 da ONU, e no uso responsável da tecnologia.

No cenário nacional, a Natura anunciou que usará o indicador de renda digna como indexador da remuneração de seus colaboradores, ajustando os salários conforme o custo de vida de diferentes localidades. 

A remuneração de executivos baseada em metas ESG não é apenas uma tendência passageira, mas uma abordagem que promove a sustentabilidade corporativa a longo prazo. À medida que mais empresas adotam essas práticas e demonstram seus benefícios, a vinculação da remuneração à metas ESG se solidifica como uma estratégia eficaz para unir o sucesso financeiro ao impacto positivo.

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Crédito da imagem: jcomp – Freepik

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